terça-feira, 25 de janeiro de 2011



"...entrei numa espécie de marasmo criativo e sentimental, convencido de que não era um marasmo mas um sortilégio, uma coisa inevítavel e não passível de ser justificada racionalmente, demasiado obscura para ser compreendida - um encantamento ou uma peste, dependendo do ponto de vista. Este marasmo, julgava eu, faria parte do processo de criação dessa tal obra-prima; era a sina de um tipo que finalmente começava a tornar-se um escritor, aquela película finíssima de paralisante pessimismo que nos ia separando da realidade e, a cada hora que passava, se tornava imperceptivelmente mais espessa, até que um dia nada nos podia tocar mas também nada nos podia salvar, de tal modo nos encontravamos isolados de tudo."

Miguel Tordo
O Bom Inverno

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