Quer dizer, eu sofro, e como tendemos a generalizar os nossos sentimentos, parto do princípio de que as outras pessoas tb sofrem. Tenho, contudo, a honestidade intelectual de reconhecer que pode haver quem se sinta à margem desta definição. Esses devem parar de ler agora.
Muito bem, então agora já posso explicar melhor esta patologia, porque não valia desperdiçar o latim "naqueles-que-julgam-que-não-sofrem-disto". Para abreviar, na prática o que acontece nesta sindrome é que a pessoazinha
A que vive em nós é bem disposta, assobia perante os obstáculos e é capaz de tirar prazer das coisas mais pequeninas. A pessoazinha
B, embora coberta pela mesmíssima epiderme, já é infinitivamente mais complexa.
Põe tudo em causa, duvida dos sentimentos, seus e alheios, pergunta-se se fez a coisa certa, disse a coisa certa ou vai na direcção certa; tem medos, mas não sabe para onde fugir. E está sempre disposta a estragar a festa de pessoa
A, comportando-se, muitas vezes, como uma criança mimada capaz de partir aos bocadinhos o brinquedo que fazia a outra feliz!!
Quando estamos apaixonados, por exemplo, é a
B que assume o comando, e de repente os sentimentos ressoam tão fortes que quase nos fazem perder o pé.
Os ciúmes fazem doer, os obstáculos parecem todos superáveis e os riscos, desafios irresistiveis.
Quando a
B está feliz, está muito, muito mais feliz que a pessoa
A alguma vez estará, mas quando a
B está infeliz, a
A nem consegue imaginar o que isso é.
Há momentos em que queremos desesperadamente ser mais uma das pessoas que a outra, ou porque o cansaço da rotina nos impele para a montanha russa ou porque a montanha russa torna a rotina deliciosamente atraente.
E é por isso que nunca podemos jurar onde está a felicidade!
Isabel Stilwell
